Eu nem havia crescido ainda, da porta da cozinha, pés no chão de tijolos descobertos, frio da manhã de julho, nariz escorrendo. Os meus olhos campeavam o rio Ipojuca majestoso naquela cheia de 58. A primeira manhã na casa do fim do mundo, como dizia vovó Mocinha. Cruzar o rio nessa época era muito perigoso, tinha a correnteza, as baronesas fugindo do agreste em direção ao mar. Eu vislumbrava o vale verde e alagado, brilhando como espelho mágico abrindo passagem à imaginação. O velâme, a caatingueira, o juá e o jatobá em tempo de floração, perfumavam o ar frio e manhoso daquela manhã. O café pilado em casa, pelas mãos rugosas da vovó Luizinha, fez-se presente pelas frestas dos quartos, futucando o sono dos meus irmãos. Orvalho lavava as folhas das roseiras, das samambaias, das avencas, das orquideas, da flor de cera, da coroa de frade, do jasmim que não cheirava, só enfeitava a janela do quarto das meninas do jardim da casa da minha mãe. O Cuscuz bailava em fumaça avisando que estava pronto. Batata doce, inhame passado na manteiga de garrafa, ovos de galinha criadas no quintal. Branquinha, berrando, dava bom dia aos carinhos da minha mãe, quem não gostava era o papagaio morto de ciúmes. A minha infância acordava assim embrulhada em cobertor de inocência. Meu pai aguava a horta junto a cerca que nos apartava do mundo…
Caruaru entre os anos de 1968 e 1972 – vendo-se ao fundo, no ângulo superior direito, o bairro Petrópolis.
Texto Abdias Pinheiro(c). Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização do autor.
Foto Autor desconhecido, por enquanto*.
Estou tentando identifiar a autoria, a minha hipótese de ypsilon é que seja do fotógrafo Pissica.
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