Outro dia andando pelas ruas do centro comercial, dei de dar de cara com um tapume fedorento, sujo, nojento, em estado de dez composição, tentando tampar a estúpidez e a ingnorância com bolor. Ora vá tomar na cúia açaí com jabá em pleno ver-o-peso, às doze badaladas do sol de novembro. Vá lá seu alcáide que mora em Fortaleza, vive em Brasilia e passeia, de vez enquando, por Belém. O povo quis, o povo renovou, mas até pra reciclador de papel é necessário simancol. Belém fede a esgoto nesses dias de pouca chuva. Belém fede a urina nesses dias pós círio. Belém fede a descaso nesses anos alcadiano. Cadê o homem? Alguem sabe? Alguem viu? O homem foi pra ponte que caiu? Lá no barreiro, marambaia, cremação, guama, jurunas, batista campos! Onde foi parar o homem da solução para todos os males de Belém?
O tapume fedia a sacanagem feita às escondidas. Fedia a mijo bêbado defendendo-se entre as rachaduras da calçada, tentando se esconder em algum buraco da rua. Como fedia esse tapume! Fechei as narinas com um lenço branco, embebido em patychouli, e tentei descobrir o que havia por trás do fedorento tapume. Tapurús faziam festas, empastelavam-se. Uma fumaça, qual véu de viúva enfeitada com laços de solidão, só permitia identificar pequenos movimentos, preguiçosas ações, grandes prestações arrogantes em gigantes cadernos sebosos em contas de agiotagem. Fiz o sinal da cruz, me benzi três vezes, beijei o crucifixo, empunhei minha vela de três metros e meio e parti carregado pela destreza do carroceiro do alguidar de porcelana.
Foto: Abdias Pinheiro – Carroceiro de Fé – Círio de Nossa Senhora de Nazare – Belém, Pará – 2009
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