avéia foi rezar.

Quatro da tarde de sábado depois do círio. Rabeta apéiada na ilharga dos onze postigos, refrescamento com água de côco,  a porta lateral esquerda dá entrada ao bom humor. Tudo muito limpinho, colorido, luzes clareando os anjos apregados nas paredes. Tudo brilhando depois de anos coberta pelo esquecimento. Vozes em arremedo angelical, órgão de dois andares, trinta e tantas mil peças de engrenagem,  pés e  ágeis mãos produzindo som angelical. avéia recosta a cabeça enfeitada com diadema cravejado de estrelas na coluna sustentada por anjos ‘prestadores’ de graças. Embala-se. É arrebatada. Como um raio é transportada para esferas superiores. Ve-se montada em cima da comeeira da terra, empastelando-se de raios de sol e suave brisa matutina é solvida lemantamente.  Contempla a formação da energia que é emitida da terra. Cinza, caindo pro negro é a cor que emana do planeta. avéia escuta gemidos transportados entre as camadas de energia. Uma gota de piedade escapa pela ponta descuidada do olho esquerdo d’avéia. Gemidos de morte, de indiferença, descuido, abandono, gemidos de tristezas em coro de milhões. avéia mira os olhos marejados em direção ao sol e, cumplicentemente agradece. Um acorde grave puxa a vigília de volta à Sé. Olhos mais abertos, ouvidos mais apurados que nunca e uma bufa mais venenosa que as anteriores, levam avéiacachimbeira à atracar a rabeta bem no meio da baía do Guajará. Olhos fechados, ouvidos aguçados  e fica espreitando o mundo.

Igreja da Sé – 2009 –  Belém, Pa – foto Abdias Pinheiro

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