22
out
09

A fuga da madalena…

Era um domingo.

Manhã chegando preguiçosa e ela alí, com cara de pidona, pedindo carona pra capital. Coração quando é mole te mete em cada uma. Lá vai ela, escondida, abaixada sob o banco do carro. Partimos da aldeia. A respiração ofegante denunciava. Estava um calor de obrigar urubu a voar com uma asa só, a outra ele usava como abano. Escondida chegou madalena a cidade. Um quarto confortável foi lhe arrumado, mas o quê! Preferiu dormir a primeira  e todas as noites seguintes na civilização em baixo do céu estrelado de outubro. Fazer o quê? Ela era selvagem, vinha da floresta. Como querer que na primeira noite fizesse uso de cama, cobertor, ar condicionado, guarda-roupas, abajur lilás… Nasceu e se criou na floresta! Madalena foi se adaptando ao ambiente urbano. Aos domingos um passeio na praça, ver gente, dançar com o pavulagem, espairecer. Coração nativo tem disso. Eu ia trabalhar morrendo de preocupação por ter que deixar a madalena sozinha naquela casa enorme e sem árvores. Fique matutando de como criar um ambiente no a madalena se sentisse em casa, pois eu ja começava a ficar preocupado com o humor dela. Certa vez, quando cheguei em casa do trabalho, coloque madalena no colo e, sem mais nem menos ela me desferiu, é, a palavra certa é essa mesmo, desferiu uma mordida no meu dedo. Levei um susto tão grande, que de tão grande e,  tendo o instinto de defesa e não o selvagem da selvagem, para me defender dei um grito acompanhado de um grande pulo…coitada da madalena, acho que ela não esperava pela minha reação…vôo longe, muito longe. Foi de dar com a carapaça no braço da  poltrona a nossa frente. Eu fiquei paralizado e ou mesmo tempo irritado e sem entender o porquê da reação da madalena. Ela encolheu-se, correu par um canto do quintal que já havia uma cabaninha, construida por mim, como forma de agradar a bichinha e se escondeu. Eu estava possuído de raiva e ao mesmo tempo intrigado. Quase não dormi naquela noite. Rebolei na cama até altas horas me perguntando que mau havia praticado a madalena. Dormi um sono tracejado de sonhos estranhos. Em algum momento tive a impressão que alguem me observava. Um frio na espinha me chamou para o trabalho. Não consegui me concentrar nas tarefas da repartição. Dei uma desculpa ao meu chefe e consegui a liberação para ir pra casa. Ô sina, que destino incompreensivo! Chegando em casa cori logo pra  madalena, falar-lhe dos meus sentimenos, atenção, se lhe magoado havia que me desculpasse! Meu espanto! A cabaninha estava vazia, nem sinal da madalena. Feito cachoro caído de mudança, sai sem rumo, sem direção, sem conseguir coordenar as idéias, se é que àquela hora havia espaço para tanto. Madalena sumiu. Até hoje fico pensando em qual panela foi parar minha jabota!

 

(c) Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução parcial ou total sem autorização do autor.


2 Respostas to “A fuga da madalena…”


  1. 1 Kadja
    outubro 22, 2009 às 6:31 pm

    Antes a Madalena ir parar num apanela do que eu. Se bem que olha onde eu vim parar… não é outro mundo, mas é outro Brasil. Não tem a Véiacachimbeira para me amparar nem para me ralhar, mas o cheiro do cachimbo dela eu sinto aqui na esquina da Nazica, opa, digo da Nossa Senhora… de Copacabana!


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